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Impacto Ambiental

A directiva europeia para a qualidade do ambiente (directiva 2008/105/EC) e para a qualidade das águas subterrâneas (directiva 2006/118/EC) estabelecem um valor máximo de resíduos de pesticidas nas águas subterrâneas de 0,1 e de 0,03  para a qualidade da água para consumo humano  (directiva 98/83/EC).

 

Quando o Glifosato é introduzido no ambiente ocorrem vários processos que parecem determinar o seu destino, como por exemplo:

  • Formação de complexos na agua com iões bivalentes: Ca2+ , Mg 2+ , Fe 2+ etc.

  • Adsorção ao sedimento ou partículas suspensas na agua e/ou no solo

  • Absorção e metabolismo pelas plantas

  • Biodegradação por microrganismos

 

Sendo que no caso deste último processo, as bactérias utilizam o Glifosato como fonte de fosforo, carbono ou azoto.  O principal metabolito é o AMPA (ácido aminometilfosfónico), resultante da quebra da ligação C-N e o dióxido de carbono, que resulta da degradação de AMPA

(Simonsen 2008; Gomez 2009).

 

Persistência no solo e água

 

O Glifosato adsorve muito fortemente ao solo e não é esperada uma transferência vertical maior do que 15 cm no solo. Pelo que, não é expectável que o Glifosato e o AMPA passem para águas subterrâneas devido a essas características, no entanto, tem o potencial de contaminar águas de superfície devido à erosão que pode ocorrer de sedimentos ou partículas suspensas que foram levadas até à agua superficial e que contenham o Glifosato adsorvido (ver figura 1). Além disso, o Glifosato não é muito hidrolisado na água e não sofre fotólise com facilidade. A mineralização do glifosato é favorecida após adsorção do mesmo às partículas do solo o que leva, por isso a uma maior dificuldade na degradação do mesmo. Sendo que o Glifosato tende a persistir durante mais tempo em condições aeróbias do que anaeróbias (EPA 1993; European Commission 2002) (ver tabela 1).

Tabela 7: Degradação no solo em condições aeróbicas e anaeróbicas (adaptado de EC 2002).

Algumas empresas, como a Monsanto, que têm referido que o Glifosato é imóvel no solo, no entanto o mecanismo de adsorção e desorção não esta completamente esclarecido (Monsanto 2014). Há, porém, alguns estudos relativos à formação de complexos com metais e competição direta pela adsorção às partículas do terreno, variando com a composição do mesmo. De maneira que, terrenos mais argilosos tendem a absorver mais Glifosato. Este pode ainda ligar-se a substâncias húmicas, encontradas em solução no solo e que são importantes frações de reserva da matéria orgânica como fontes de aminoácidos, estimulantes do desenvolvimento das plantas e da microflora, sendo responsáveis pelo transporte para níveis mais profundos do solo de vários pesticidas (EPA 1993). Em alguns casos o excesso de cobre diminui a adsorção de Glifosato a minerais argilosos devido à formação de complexos metálicos. A presença de fosfato inorgânico também tem sido apontada como inibidor da degradação do Glifosato por algumas bactérias, pelo que é recomendada a investigação da interferência de fertilizantes de fosfato com a ligação do Glifosato aos solos, tendo em consideração que o mesmo se liga ao solo através do seu grupo metafosfórico (Aparicio 2013).

 

Apesar das varias entidades europeias e americanas referirem a baixa passagem para as águas do Glifosato, evocando a sua elevada adsorção aos solos, alguns estudos tem vindo a referir precisamente o contrário. Nos estados unidos foi estudado o possível transporte do glifosato e do AMPA em correntes de água demonstrando que esta substância e o seu metabolito tem sido detectados em águas de superfície de tanques de campos agrícolas onde o herbicida é usado, sedo que as suas concentrações são influenciadas pela fonte, pelo escoamento das águas superficiais, pelo caminho percorrido e pelo fluxo da água (Coupe 2012).

 

 

Um estudo de monitorização ente 1999 e 2009 na Dinamarca revelou que o glifosato poderia ser lixiviado através da infiltração das águas da chuva (precipitação acima de 50 mm/dia) em alguns tipos de terrenos para águas subterrâneas e rios.  Detectaram em dois locais de solo argiloso a lixiviação elevada de Glifosato e do seu metabolito, sendo que num dos locais foram detectados valores de concentrações acima de 0,1 em 89 das 379 amostras de águas de sistemas de drenagem e em 2 de 512 amostras de águas subterrâneas . O AMPA foi detectado até 3 anos após a aplicação de Glifosato, sendo que pode ser devido à sua lenta libertação do solo ou da degradação progressiva do Glifosato (Rosenbom 2010).

 

Figura 7: Representação esquemática do percurso do Glifosato no ambiente.

Aparicio V, De Gerónimo E, Marino D, Primost J, Carriquiriborde P,  Costa J (2013) Environmental fate of glyphosate and aminomethylphosphonic acid in surface waters and soil of agricultural basins. Chemosphere 93: 1866-1873. 

 

Coupe R, Kalkhoff S, Capel P, Gregoire C (2012) Fate and transport of glyphosate and aminomethylphosphonic acid in surface waters of agricultural basins. Pest Management Science 68: 16-30. 

 

Council Directive 98/83/EC Quality of water intended for human consumption. http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:31998L0083 . Acedido a: 10 de Maio de 2015

 

Directive 2006/118/EC Protection of groundwater against pollution and deterioration. http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:32006L0118 . Acedido a: 10 de Maio de 2015 

 

Directive 2008/105/EC Environmental quality standards in the field of water policy, amending and subsequently repealing. http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:32008L0105 . Acedido a: 10 de Maio de 2015

 

EPA (1993) Reregistration Eligibility Decision (RED) Glyphosate. http://www.epa.gov/oppsrrd1/reregistration/REDs/factsheets/0178fact.pdf . Acedido a: 10 de Maio de 2015

 

European Commission (2002) Review report for active substance glyphosate. http://ec.europa.eu/food/plant/protection/evaluation/existactive/list1_glyphosate_en.pdf . Acedido a: 10 de Maio de 2015

 

Gomez E, Ferreras L, Lovotti L, Fernandez E (2009) Original article: Impact of glyphosate application on microbial biomass and metabolic activity in a Vertic Argiudoll from Argentina. European Journal of Soil Biology 45: 163-167. 

 

Monsanto (2014) Summary of Human Risk Assessment and Safety Evaluation on Glyphosate and Roundup® Herbicide. http://www.monsanto.com/glyphosate/documents/summary-of-human-risk-assessment-and-safety-evaluation.pdf . Acedido a: 24 de Maio de 2015

 

Rosenbom A, Brüsch W, Juhler R, Ernstsen V, Gudmundsson L, Kjær J, Plauborg F, Grant R, Nyegaard P, Olsen P (2010) The Danish Pesticide Leaching Assessment Programme Monitoring results May 1999–June 2009. Geological Survey of Denmark and Greenland, Ministry of Climate and Energy and Faculty of Agricultural Sciences.  http://pesticidvarsling.dk/xpdf/vap-results-99-09.pdf . Acedido a: 20 de Maio de 2015

 

Simonsen L, Fomsgaard I, Svensmark B, Spliid N (2008) Fate and availability of glyphosate and AMPA in agricultural soil. Journal of Environmental Science and Health Part B 43: 365-375. 

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