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Impacto nos Alimentos

Há uma grande preocupação com o uso dos pesticidas e a sua presença nos alimentos, assim como o impacto na saúde dos consumidores a curto e longo prazo. Dessa forma estabeleceram-se limites máximos para os resíduos de pesticidas que podem ser encontrados nos alimentos (MRL – valor máximo de resíduos de pesticidas permitido no alimento expresso em mg/Kg) e que tem sido revistos pela autoridade europeia da segurança alimentar - EFSA.

 

No relatório de 2013 da EFSA, acerca dos resíduos de pesticidas nos alimentos, observa-se a presença de Glifosato em vários deles que, apesar de não ultrapassarem o MRL estabelecido, são detectados resíduos do mesmo acima do LOQ (limite mínimo de quantificação) nos seguintes: aveia (MRL: 100 mg/Kg), centeio (MRL:30 mg/Kg) e vinho (MRL: 10 mg/kg de uvas), sendo que nas maçãs detectaram-se valores abaixo do LOQ (0,1 mg/kg) (EU 2015).

 

Dos alimentos referidos a aveia é o que mais sobressai, verificando-se que 44,2 % das amostras analisadas continham Glifosato abaixo ou igual ao seu MRL. No caso do vinho branco ou tinto 941 amostras foram analisadas das quais 55% não continham resíduos de pesticidas acima do LOQ, mas 7,3 % das amostras continham Glifosato abaixo ou igual ao MRL e acima do LOQ, sendo que é importante referir que 2013 foi o primeiro ano que o vinho foi incluído nas análises do relatório anual da EFSA não estando ainda estabelecido um MRL do Glifosato para o vinho, pelo que o MRL conhecido corresponde às uvas. No caso do centeio este foi encontrado em 5% das amostras com valores acima do LOQ, no entanto, todas abaixo ou igual ao MRL (EFSA 2013).

 

Das amostras analisadas, Portugal era o país da UE que tinha a maior % de amostras analisadas com resíduos de pesticidas detetados abaixo ou igual ao MRL no valor de 59,1% e 4,3% das amostras analisadas com resíduos acima do MRL. Quando comparados com os valores obtidos em 2012 verifica-se uma redução da % de amostras contendo resíduos de pesticidas acima do MRL (EFSA 2013).

 

Verificou-se ainda, no geral, uma diminuição da % de amostras a exceder os limites na EU, no entanto é importante ter em conta que muitos destes produtos são importados de países fora da comunidade europeia e até mesmo de países pouco desenvolvidos onde o controlo não é tão apertado. Portugal deu 92,4% de amostras domésticas e, portanto, na sua maioria não correspondiam a amostras importadas, porém apenas apresentou 3,4 amostras por 100 000 habitantes, o que representa uma amostra bastante reduzida (EFSA 2013).

 

O panorama geral de todos os resíduos de pesticidas não é alarmante, no entanto a presença de 46,3 % das amostras com valores entre o LOQ e o MRL alertam para uma problemática que deve ser investigada. Tendo em conta estes valores é importante não só aumentar o conhecimento sobre o efeito a curto prazo da presença de resíduos de pesticidas mas também com uma exposição prolongada a estes pesticidas e as suas consequências e relações com patologias conhecidas e/ou de etiologia desconhecida.

Além disso, a EFSA verificou que a exposição ao Glifosato a longo prazo era baixa: cerca de 0,5% do ADI (Dose diária admissível expressa em mg/Kg de peso corporal por dia), sendo que o ADI para o glifosato foi estabelecido em 2001 pela COM (Comissão das comunidades europeias) no valor de 0,3 mg/kg bw (peso corporal) por dia, mas não foi estabelecido um valor para o ARfD (Estimação da dose referência de exposição ao Glifosato na qual se assume ausência de efeitos adversos) (EFSA 2013).

 

 

Entre 2011 e 2012, a soja foi plantada em cerca de 30 milhões de hectares nos EUA , com Roundup® Ready GM (geneticamente modificado) de soja contribuído em 93-94% da produção. Inicialmente, para verificar a equivalência da segurança destes alimentos geneticamente modificados com os convencionais e orgânicos , eles não testaram as plantas com o herbicida recomendado e quando o fizeram não procuraram os resíduos de pesticidas. Pelo que, para confirmar equivalência de segurança, deve-se procurar perceber se o Glifosato realmente faz parte da composição da planta e se pode ser tóxico ou adiciona propriedades tóxicas na planta final por si só ou pela alteração do próprio metabolismo da planta. Procederam à inserção de um gene no genoma da planta que codifica para a enzima CP4 EPSPS, análoga da EPSPS (5-enolpiruvilchiquimato-3-fosfato sintetase, da  estirpe  Agrobacterium sp. CP4 O Glifosato liga-se de uma forma conformacional não inibitória e condensada, sendo, por isso, a planta geneticamente modificada tolerante ao glifosato. O agricultor pode então usar o glifosato em qualquer altura do cultivo sem trazer prejuízo para a soja geneticamente modificada, no entanto, isto pode levar a um uso excessivo de Glifosato que pode trazer consequências para o agricultor (seleção de plantas daninhas resistentes ao glifosato) e para o consumidor (acumulação do Glifosato no tecido da planta). Num estudo recente, verificaram-se não so acumulação de resíduos de Glifosato e do seu metabolito AMPA na planta, mas também alterações na composição nutricional do produto final (Bøhn 2014).

Figura 8: Determinação das quantidades necessárias ingerir de garrafas de vinho, maçãs e chávenas de aveia para ultrapassar o ADI do Glifosato.

Bøhn T, Cuhra M, Traavik T, Sanden M, Fagan J, Primicerio R (2014) Compositional differences in soybeans on the market: Glyphosate accumulates in Roundup Ready GM soybeans. Food Chemistry 153: 207-215. 

 

EFSA (2013) The 2013 European Union report on pesticide residues in food. http://www.efsa.europa.eu/de/efsajournal/doc/4038.pdf .Acedido a : 20 de Maio de 2015

 

EU (2015) Pesticides Database. http://ec.europa.eu/sanco_pesticides/public/?event=pesticide.residue.selection&language=EN . Acedido a : 22 de Maio de 2015 

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