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Toxicocinética

O metabolismo do Glifosato no homem ainda não se encontra bem compreendido. Contudo sabe-se da formação de dois principais metabolitos (Sviridov 2013), o ácido α-amino-3-hidroxi-5-metil-4- isoxazolpropiónico (AMPA) e o glioxilato, sendo que o AMPA apresenta-se menos tóxico do que o Glifosato. Já o glioxilato é um agente glicosilante altamente reativo, que perturba o funcionamento de várias proteínas em células que são expostas a este metabolito. Este último mecanismo ganha relevo uma vez que glicosilação tem sido diretamente implicada na doença de Parkinson (DP).

AMPA

Figura 5: Estrutura química do AMPA.

Glioxilato

Figura 6: Estrutura química do Glioxilato.

A dificuldade inerente ao establecimento de uma via que resuma o metabolismo pelo qual o Glifosato origina estes dois metabolitos no homem (Sviridov 2015), está associada ao fato de tanto o AMPA como o glioxilato serem produzidos por bactérias da nossa flora após metabolização do Glifosato. Desta forma, as determinações laboratoriais destes metabolitos confundem-se entre a quantidade que realmente é produzida pelo organismo o humano e a resultante do metabolismo bacteriano.

Contudo, um estudo (Anadón 2009) avaliou a concentração plasmática do Glifosato e do seu metabolito AMPA após a administração de apenas uma injeção de 100 mg/kg e a administração oral de 400 mg/kg em ratos. Para o Glifosato, o tempo de semi-vida foi de 9,99h após administração intravenosa (i.v.) e 14,38h após administração oral. A clerance plasmática total não foi influenciada pela concentração da dose administrada ou via de administração. A administração i.v. demonstrou uma considerável difusão do herbicida nos tecidos. Após administração oral, o Glifosato foi parcialmente e lentamente absorvido e com um Tmax de 5,16 h. A biodisponibilidade oral deste foi de 23,21%. O Glifosato foi convertido no seu metabolito AMPA numa extensão de 6,49%. A concentração plasmática máxima de AMPA foi alcançada às 2,42 h. Para AMPA, o tempo de semi-vida foi de 15,08 h após administração oral do composto de original de Glifosato.

Gráfico 1:  estudo em ratos da variação da concentração de Glifosato e do seu metabolito AMPA ao longo tempo (adaptado de Anadón 2009).

Já outro estudo (Roberts 2010) verificou, a partir de 601 indivíduos expostos a uma toxicidade aguda a herbicidas à base de Glifosato, que na maioria dos pacientes, a amostra de plasma inicial era a que apresentava a concentração máxima de Glifosato, o que sugere uma absorção rápida deste. Tal fato, indica uma fase de eliminação logarítmica linear com o declínio na concentração no plasma, indicando uma eliminação de primeira ordem. O tempo de semi-vida  aparente do Glifosato foi de 3,1 horas (IC 95% 2,7-3,6 horas).

Gráfico 2: Relação entre a dose e resposta, demonstrando uma aproximada separação entre os casos de sobrevivência e os casos fatais (adaptado de Roberts 2010).

Em 2002 a Comissão Europeia (CE) fez uma reavaliação do Glifosato, a vários níveis como, por exemplo, toxicocinético, de forma a incluir este na directiva 91 /414 /CEE relativa à colocação dos produtos fitofarmacêuticos no mercado. Nessa reavaliação, o glifosato apresentava como valor de DL50 oral e dérmico em ratos superior a 2000 mg/kg bw (peso corporal) equanto que a nível inalatório o DL50 em ratos é superior a 5 mg/L de ar ( após 4h de exposição).  No entanto, importa considerar que tais dados resultaram de uma avaliaçao de vários estudos realizados entre 1979 e 1996 por empresas como Monsanto®, Cheminova®, etc., que são empresas químicas produtoras de herbicidas como o Glifosato e, por isso, os estudos não possuem um caráter totalmente imparcial que garanta a total veracidade dos dados apresentados (directiva 91 /414 /CEE).

Anadón A, Martínez-Larrañaga M, Martínez M, Castellano V, Martínez M, Bernal J, Martin M, Nozal M, Bernal J (2009) Toxicokinetics of glyphosate and its metabolite aminomethyl phosphonic acid in rats. Toxicology Letters 190:91-95. 

 

Directiva 91/414/CEE Colocação dos produtos fitofarmacêuticos no mercado. http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX:31991L0414 . Acedido a: 20 de Maio de 2015

 

Roberts D, Buckley N, Mohamed F, Eddleston M, Goldstein D, Dawson A, Mehrsheikh A, Bleeke MS (2010) A prospective observational study of the clinical toxicology of glyphosate-containing herbicides in adults with acute self-poisoning. Clinical Toxicology 48: 129-136.

 

Samsel A, Seneff S (2013) Glyphosate, pathways to modern diseases II: Celiac sprue and gluten intolerance. Interdisciplinary Toxicology 6: 159-184. 

 

Sviridov A, Shushkova T, Ermakova I, Ivanova E, Epiktetov D, Leontievsky A (2013) Microbial degradation of glyphosate herbicides (Review). Applied Biochemistry and Microbiology 51: 188-195. 

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